Lembre-se: a derrapagem do carro da frente serve de alerta para os carros que vêm atrás dele. Continuando a série de reflexões sobre este nicho e minha experiência de mais de 10 anos “no deserto”, lanço uma questão:
Não é estranho que a média de acessos ao projeto se mantenha, mas não se traduza em divulgação e engajamento?
Como entusiasta do comportamento humano, eu suponho qual seja o motivo disso e, concidentemente ou não, ao conversar com meus programadores virtuais, de novo, eles afirmaram basicamente o que penso a respeito. Segundo o DeepSeek, “o medo do desprestígio é o motor por trás de tudo”.
Levando a questão para esse lado, engajar o projeto seria um risco social. Seria admitir que se está aprendendo com alguém que não deveria estar ensinando, por “ser inferior”. Portanto, reconhecer o valor do projeto, poderia ter como consequência o “rebaixamento” de pessoas dentro do próprio grupo (e diante dos outros “de fora” também), o que as faria perder justamente o prestígio social que tanto buscam através do apreço pelo Japão e/ou pela língua japonesa.
Para se sentir bem consigo mesmo, o nicho precisa acreditar que é um grupo especial, seleto, exclusivo e de alto status por estarem relacionados a algo, supostamente, considerado “chique, difícil e exótico" pela sociedade brasileira. Com isso, pessoas podem construir sua autoestima baseada em ideias (distorcidas) como:
(1) "Nós somos inteligentes porque aprendemos algo difícil."
(2) "Nós somos culturalmente superiores porque apreciamos algo exótico e refinado."
(3) "Nós temos um gosto melhor que o das outras pessoas."
(4) "Nós somos pessoas de virtude superior em comparação a outras pessoas."
Se parar para pensar, vemos esse filme constantemente neste nicho, não é mesmo?
Pois bem. O problema começa quando o projeto, e especialmente o sucesso pessoal de uma pessoa com deficiência, quebra brutalmente essa narrativa idealizada sobre o Japão. Na lógica distorcida da hierarquia social que o nicho criou, uma pessoa “inferior” ser inesperadamente bem-sucedido em um domínio que eles acreditavam ser apenas para “pessoas superiores” desencadeia uma crise de identidade grupal. A pergunta inconsciente é:
"Se uma pessoa com deficiência (um 'inferior' na hierarquia social imaginária do nicho) consegue fazer isso, então, as ‘pessoas de fora’ vão achar que o Japão e a língua japonesa não são tão especiais assim. O que vai acontecer conosco e nossa suposta superioridade?"
A conclusão inconsciente é que o Ganbarou Ze! os “transforma” em “pessoas comuns”, tirando do nicho o status especial que acreditam ter.
Diante dessa ameaça, o nicho não pode me atacar frontalmente (eu os poderia expor com provas e, como socialmente falando, a discriminação contra pessoas com deficiência é considerada reprovável, isso afetaria justamente o prestígio social que tanto buscam). Então, o nicho usa estratégias sutis para minimizar e neutralizar a ameaça que, na cabeça deles, o Ganbarou Ze! representa, como o consumo silencioso (número de acessos constante, mas sem engajamento ou divulgação) e boicote social silencioso para manter o Ganbarou Ze! em seu "lugar" imaginário, isto é, se não reconhecem o Ganbarou Ze!, é como se ele não existisse. Se ele não existe, então eu não sou uma ameaça à hierarquia e ao status do grupo.
Segundo o próprio DeepSeek “não há nada que você (eu), sozinho, possa fazer para mudar a dinâmica desse grupo específico”.
Concordo com o DeepSeek, infelizmente e tenho mais de 10 anos de experiência para poder afirmar isso. A única solução seria alguém de prestígio no nicho “validar” o meu trabalho, assim como aconteceu comigo na faculdade em 2005, como relatei no “Como Aprender?”. Contudo, isso eu acho improvável acontecer, pois já são mais de 10 anos e eu já entrei em contato com instituições e influenciadores grandes relacionados ao nicho.
E o que recebi?
Nenhuma resposta ou no máximo o clichê “continue e não desista dos seus sonhos”.
É por isso que já considero, neste nicho, uma batalha perdida. A menos que surja um novo influenciador explodindo no nicho e ele valide o meu trabalho. Contudo, a vida é curta e não dá para ficar esperando isso acontecer. Até por que, sinceramente, eu não acredito que este nicho tenha força para viralizar e explodir algo novo. Até acho que a onda japonesa tem ficado cada vez mais fraca, restrita e saturada a cada ano que passa. E quem viveu o fim dos anos 1980 e os anos 1990 percebe isso mais facilmente.