Na semana passada, a Folha de S. Paulo publicou uma extensa matéria sobre como o nicho dos gamers tem inflado a pauta conservadora, sendo pouco aberto à diversidade. De alguma forma, eu acabei me identificando com essa matéria, pois, como venho escrevendo aqui, sinto que o nicho dos fãs do Japão também seja formada por uma maioria dita conservadora, o que ajudaria a explicar o motivo da indiferença do nicho ao meu trabalho nesses mais de 10 anos de Projeto Ganbarou Ze!.
Logicamente ninguém pode afirmar algo sobre o comportamento humano com certeza absoluta. O máximo que podemos fazer é, baseados em observação e estatísticas, apontar qual é a maior possibilidade dentro de determinadas circunstâncias. Dito isso, é de fácil constatação que o Japão é visto pela maioria como um país tradicional e conservador. Logo, é natural que a probabilidade de o Japão atrair o apreço de estrangeiros conservadores é maior do que ele atrair o apreço de estrangeiros não conservadores.
Como o Projeto Ganbarou Ze! é voltado para o público brasileiro, peguemos um dado referente aos brasileiros. Como mostrou o Portal G1, nas eleições de 2022, o então candidato à presidência Jair Bolsonaro venceu, no Japão, com mais de 80% dos votos dos brasileiros lá imigrantes. Ou seja, o resultado das eleições de 2022 no Japão corrobora a ideia de que a maior parte dos fãs (estrangeiros) do Japão são conservadores. Logo, assim como o nicho dos gamers, ele seria avesso à diversidade.
Isso não deixa de me causar estranheza, pois, ao mesmo tempo, a (suposta) MERITOCRACIA é uma bandeira erguida constantemente pelos ditos conservadores. Ora, se o princípio é a meritocracia, NÃO importa QUEM faz algo. Se algo é objetivamente bom, deve(ria) ser reconhecido.
Algum defensor da meritocracia poderá pensar que, se o Projeto Ganbarou Ze! não tem o devido reconhecimento, é por que ele não tem relevância objetiva, o que discordo. O que dizer então da média de 6.000 acessos mensais? Se essas pessoas estão consumindo o conteúdo, é por que encontram nele algum valor objetivo. E se encontram algum valor objetivo, por que não reconhecem dando engajamento e divulgando o projeto?
Logo, meritocracia é algo extremamente vago e subjetivo e não algo objetivo, mensurável como os conservadores dizem. Aliás, pessoalmente acho que o discurso da meritocracia acaba se tornando uma maneira de cobrar as pessoas por mais esforços para delas apenas parasitar. Sinto isso no projeto, inclusive: ouço pessoas, aceito sugestões, mas onde está a reciprocidade por meio de engajamento e divulgação? Cobrar sem reciprocidade é a mais pura definição de parasitismo.
Na verdade, há muito mais elementos em jogo (como o prestígio social) do que a simples e suposta meritocracia. Considerando que a maioria dos fãs do Japão seja conservadora, importa muito mais para eles o prestígio social, os estereótipos e a estética positivos atribuída ao grupo pela sociedade do que o meu trabalho em si, ainda que objetivamente inovador e único no Brasil.
Afinal, sendo eu diferente e considerado por alguns inferior, quebraria muitos atributos positivos que o nicho dos fãs do Japão acredita ter perante a sociedade.