segunda-feira, 29 de setembro de 2025

FERRARI NAS MÃOS DE POBRE

Continuando as minhas reflexões baseadas em mais de 10 anos com este nicho e a “vida no deserto” (sem engajamento e sem divulgação por parte de quem acessa constantemente o blog), gostaria de fazer uma analogia:

O que aconteceria se TODO MUNDO passasse a ser capaz de comprar uma Ferrari?

Não é difícil concluir que, se TODO MUNDO fosse capaz de comprar uma Ferrari, o “valor social” atribuído a quem possui uma Ferrari (alguém “especial”, com muito dinheiro e, por isso, prestigiado socialmente), diminuiria bastante. Logo, do ponto de vista de quem possui uma Ferrari, torná-la acessível às camadas ditas inferiores representa uma ameaça, pois aquilo que lhes dava prestígio social se torna algo popular, comum.

Ora, se o que o que move muitos a aprender japonês e a cultura japonesa é meramente o desejo de se “sentir dono de uma Ferrari”, uma pessoa “inferior” com esta “Ferrari” representa uma ameaça, pois pessoas de fora do nicho podem pensar: “Se uma pessoa com deficiência consegue aprender e ensinar japonês, então, não é algo tão especial e difícil como o pessoal alardeia por aí”. Assim:

Ferrari = conhecimento de japonês.

Raridade = prestígio.

Acessibilidade = perda de valor simbólico.

O que se valoriza não é apenas a habilidade em si, mas o prestígio social advindo da sua escassez.

***

Se o que o que move muitos a aprender japonês e a cultura japonesa é meramente o desejo de se “sentir dono de uma Ferrari”,  então, a APARÊNCIA conta muito. E não é difícil perceber isso neste nicho, infelizmente: dificilmente vemos criadores de conteúdo, mesmo que sejam japoneses nativos, com muitos seguidores se não atendem aos estereótipos que o nicho tem do Japão. Logo:

Exclusividade → aprender japonês como forma de se destacar dos “outros”. O público não valoriza a competência em si, mas a recompensa social que se pode obter estando vinculado a algo considerado “superior”.

Estereótipos visuais/culturais → só é reconhecido quem se encaixa em certas “expectativas” do nicho (o “Japão idealizado”).

Se o que o que move muitos a aprender japonês e a cultura japonesa é meramente o desejo de se “sentir dono de uma Ferrari”,  então, este projeto só decolará se alguém de prestígio social der alguma moral para ele. Aí com certeza muitos aparecerão dizendo: “Conheço o Ganbarou Ze! desde 2014 e sempre achei um dos melhores projetos de língua japonesa”. Aparecerão como baratas que saem do esgoto até a superfície no verão. Elas estão sob nossos pés, mas só aparecem quando convém.